O Teatro da Socìetas Raffaello Sanzio é muito mais que um estudo acadêmico sobre uma ousada proposta que vai além do teatro tradicional. Com a experiência e a observação diretas da autora, a sua urdidura incorpora uma abordagem multifacetada em que se cruzam análise, referências teóricas e uma perspectiva fenomenológica, demarcando o trabalho realizado em Cesena, na Itália. Conhecida internacionalmente por seu engajamento na criação experimental, essa companhia reelabora e repensa o fazer teatral, no empenho de recuperar a espontaneidade, a naturalidade, de uma teatralidade primordial que precede, transcende e critica a 'representação', lançando mão, para tanto, de diferentes meios expressivos como videoinstalações, performances, música e um intenso trabalho com o corpo. Assim, Melissa Ferreira, ao nos descrever e apresentar essa marcação interdisciplinar, nos revela como o trabalho dessa sociedade extrapola as artes cênicas. Embora apoiado em diversas matrizes, ele não se limita ao imaginário produzido pela historiografia teatral, com ecos e reverberações presentes na materialidade das experiências, na plasticidade dos materiais, no cromatismo (bem ao gosto do pintor, arquiteto e humanista Rafael, que lhe empresta o nome), nas sonoridades e nas corporeidades, principalmente aquelas que fogem à 'norma'. Pari passu, pois, com seu objeto, este título da coleção Estudos dissolve fronteiras e retira a filosofia e a antropologia, a criação artística e a pedagogia de seus lugares-comuns estabelecidos, para revesti-las de suas marcas originais na celebração ou festa teatral de um desempenho prístino das auroras das artes cênicas.'