Ao desembarcar em Londres em 1949, com um filho de dois anos e o manuscrito de seu primeiro romance na mala, Doris Lessing conheceu a fundo a vida numa grande cidade do pós-guerra. Em meio aos quarteirões de casas vazias, com ruas desabitadas e prédios bombardeados, sobreviventes de campos de concentração, refugiados e exilados políticos viviam seu cotidiano repleto de agruras, mas também de esperanças. Em Andando na sombra - segundo volume de sua autobiografia, iniciada com Debaixo da minha pele (Companhia das Letras, 1997) - Doris Lessing passa em revista esse período crucial de sua formação, que se estende de 1949 a 1962. Com honestidade e lucidez invejáveis, Lessing narra o desabrochar de suas paixões políticas e amorosas. Paralelamente ao trajeto pessoal da autora, Andando na sombra revela também as profundas transformações por que passavam então os costumes, as relações interfamiliares, a condição feminina, os tabus sexuais.