Este livro apresenta uma análise da obra do intelectual francês Roger Bastide e das suas interlocuções com autores contemporâneos. Nele reflete-se sobre algumas das formas de constituição dos temas relacionados à raça e religião na obra do autor, e porque esses temas foram construídos de determinada forma que indica não somente filiações teóricas e metodológicas, mas possíveis compromissos políticos de Bastide com seu objeto. A análise de sua obra propicia o entendimento de uma parcela do processo de formulação de temas referidos à população de origem africana presente no país, em especial as “relações raciais”, o “preconceito de cor”, e o “preconceito de raça”. Procura-se mostrar, também, que a obra de Bastide indicava uma situação paradoxal: tratava das questões relacionadas ao “negro” no Brasil, mas quando se colocavam em movimento os vários recortes, como o preconceito de raça e as religiões de origem africana o que se percebia era uma desconexão intencional elaborada pelo autor: preconceito de raça/cor de um lado versus religião africana de outro. Duas partes organicamente entrelaçadas na sociedade e no seu cotidiano, mas artificialmente cindidas na obra do autor francês. Analisar a sua obra foi uma forma de perceber caminhos inusitados para adentrar alguns dos significados e problemas possíveis presentes na época em estudo. O trabalho intelectual apresenta-se como uma evidência daquele momento, das suas lutas políticas e intelectuais e mostra-se também como forma de sugerir uma visão daquele presente e da própria história do país, e talvez como forma de recuperar alguns dos seus significados possíveis. Trata-se a obra de Bastide como uma dada representação da sociedade brasileira e de sua história e mostra-se que as representações criadas pelo autor tiveram suas conseqüências, vistas na forma das percepções posteriores da sua obra, e na cristalização de uma dada imagem do país e das suas relações sociais.