A escrita deste livro é guiada por cenários, práticas, pessoas e sentidos. Esta foi a forma de colocar em movimento uma ótica muito particular, a de buscar interpretar “Os filhos de Deus e netos de Makunaima” sob o registro genealógico do sagrado, tanto pelas dinâmicas que movem as tradições macuxi – a crença no fundador do seu povo (Makunaima) – quanto, e principalmente, pela apropriação de um tipo de catolicismo. A observação das práticas cotidianas na comunidade Maturuca, na Terra Raposa Serra do Sol, berço de lideranças políticas indígenas no processo de defesa de seus territórios, auxilia na compreensão dos sentidos sobre as ações missionárias, com ênfase para a presença dos Consolatinos e a contextualização da mensagem bíblica em boa medida marcada pelos princípios da Teologia da Libertação. A relação dialógica entre o catolicismo universal e as interpretações macuxi entram em revisão a partir de quatro práticas inseridas no calendário das celebrações cristãs da Páscoa e do Natal. Os indígenas e os religiosos são agentes de um processo de hibridização onde as interações problematizam as capacidades de negociação pelos sujeitos e propiciam uma reflexão sobre cultura e poder. O tema dos direitos indígenas revestido liturgicamente e as dificuldades seculares vivadas pelos indígenas fazem com que a defesa da terra ocupe uma centralidade concreta no processo de espiritualidade. Desse encontro se sobressaem as dimensões político-religiosas que acentuam as particularidades de um catolicismo em terras macuxi, assentado sobre a operacionalidade de projetos de enfrentamento dos seus principais problemas, ou seja, sobre o processo de transformação de suas vidas.