Um dos nomes mais reconhecidos da literatura brasileira na Alemanha, o imortal João Ubaldo Ribeiro foi convidado pelo DAAD, um programa de intercâmbio alemão, para realizar um roteiro literário pelo país. Assim que chegou à Alemanha em 1990, o escritor baiano ganhou uma coluna no jornal Frankfurter Rundschau. O resultado foram crônicas bem-humoradas reunidas no livro Ein Brasilianer in Berlin, sucesso editorial naquele país. No Brasil, a temporada de Ubaldo no país de Goethe repetiu o êxito alemão. Lançado originalmente em 1995, Um Brasileiro em Berlim faz um registro impiedoso, divertido e inteligente da experiência de ser brasileiro num país culturalmente tão diverso. Ao longo das 16 crônicas escritas durante os 15 meses em que permaneceu na Alemanha, Ubaldo, com sua habitual ironia, aborda os estereótipos associados ao brasileiro como um povo sexualmente libertino e o contrapõe à sisudez, também estereotipada, do alemão, lembrando que na Alemanha a nudez pública é tratada com mais naturalidade do que em terras tupiniquins. 'Aqui ficar nu na rua não é como no Brasil, aqui é normal, lá é que é indecente, o pessoal aqui só quer tomar um solzinho e trocar uns beijinhos amistosos na frente dos outros. (...) Pois Bento, conversando comigo ontem, de homem para homem, me confessou que quer virar alemão. Aqui é muito melhor, aqui o negócio é quente, não tem uma porção de melindres e fricotes, como no Brasil.', descreve em 'Sexy Brasil. Sexy Berlin'. A orelha assinada por outro ilustre baiano, Jorge Amado, destaca o talento de Ubaldo para o conto. 'Alguns escritores brasileiros, Machado de Assis e Lima Barreto, por exemplo, escreveram romances e contos, uns e outros da mais alta qualidade. Citei Machado e Lima Barreto, não teria muitos outros para citar. João Ubaldo faz parte desse pequeno grupo de craques que chutam com o pé direito e o esquerdo', elogia o conterrâneo. No mesmo texto, Jorge Amado ressalta que Um Brasileiro em Berlim é daqueles livros que se lê com 'um sorriso no rosto'. E destaca o estilo bem-humorado característico do escritor já nas primeiras páginas sobre a chegada à Alemanha: 'Ele ri das pequenas mazelas e das pequenezas - a viagem aérea na classe econômica, um dos horrores do nosso tempo -, o riso por vezes se transforma em esgar, nem por isso menos divertido.' A reflexão, por vezes, substitui o humor, mas sem abrir mão da leveza da escrita. 'Quero salientar duas crônicas de sua autoria, uma intitulada ?Índio quer apito', a outra, cujo título não me ocorre, trata dos preconceitos de raça e de sexo, negritude e homossexualismo: são impecáveis, dizem o que deve ser dito, com coragem e decência', define Jorge Amado. Com a régua e o compasso próprios de um grande escritor, Ubaldo oferece uma visão original de um brasileiro típico e suas estranhezas pela capital alemã. Mesmo passados mais de 15 anos da primeira edição, o autor mostra mais uma vez que um bom texto não tem idade.