Caminhos. São eles que formam o elo entre o migrante, seu antes e seu depois. Por vezes, caminhos de pedra, áridos; por vezes trilhas a serem abertas pelo sujeito que os descobre como possibilidade. Sempre, redutos de passagem, resistência e (des)encontro. Vitor Ramil (2008, p. 268) relata a “dor dos caminhos”, que, ao mesmo tempo, comporta beleza e perversidade. É ela – a dor – principal matéria-prima para a produção literária brasileira contemporânea, a qual tem explorado amplamente fluxos migratórios, deslocamentos e migrâncias internas e suas consequências socioculturais e individuais. Frente à diversidade que emana desses trânsitos humanos, cada vez mais intensos no novo milênio, o presente livro busca oportunizar um conjunto de investigações, atuais e abrangentes, acerca do modo pelo qual a narrativa brasileira tem representado condições de migrância – vista, na concepção de Pierre Ouellet (2005), como uma passagem ao outro, que transpõe limites e vai além, infringindo leis por meio da conjunção entre movimento e mudança. Seja por meio da problematização de identidades que transcendem fronteiras, pela expressão do diaspórico e do exílico a promover o olhar sobre a outridade, ou pelo reflexo das transformações geoculturais no humano, a literatura nunca esteve tão conectada aos deslocamentos transnacionais e suas implicações para a dissolução da dicotomia local x global; nesse contexto, espaços são redimensionados, dando lugar à diversidade, mas também a desigualdades e marginalidades.
Encontramos neste livro 11 textos ensaísticos em crítica literária, sobretudo de pesquisadoras que têm se debruçado sobre a temática do deslocamento, em específico no que tange à narrativa brasileira contemporânea. É preciso, aqui, destacar que os textos foram produzidos nas mais adversas situações individuais e coletivas derivadas da pandemia de covid-19, que assolou o mundo em 2020 e ainda persiste. Nesse contexto, em meio a tantos desafios familiares, de saúde e profissionais que envolveram as condições de produção das pesquisas aqui registradas, brindar a comunidade acadêmica com esta publicação é, por si só, um ato de resistência, que simboliza luta em meio às intempéries e esperança de dias melhores. Com textos de: Eurídice Figueiredo, Cimara Valim de Melo, Lyslei Nascimento, Cecily Raynor, Roxanne Covelo, Maria Zilda Ferreira Cury, Mônica Gama, Gínia Maria Gomes, Luciana Paiva Coronel, Vander Vieira de Resende, Sheila Katiane Staudt.