Desde muito cedo, quando criança e vivendo na cidade do Rio de Janeiro, acompanhei meu avô às cerimônias fúnebres de amigos ou vizinhos. Na verdade eu não me sentia bem nessas ocasiões, mas como adorava estar com meu avô, acompanhava-o a eventos de último adeus. Sempre gostei de observar o comportamento das pessoas em momentos como aqueles. Vi que o sofrimento dos que ficam vai da dor estampada no rosto, molhada por muitas lágrimas, porém silenciosa, até espetáculos de total histeria, quase circenses, por outras pessoas. E isso fez o autor pensar: “Qual seria o grau de afinidade entre os que ficavam e a pessoa que acabara de partir?” Teria sido realmente uma relação de carinho, afeto, amizade e amor entre as partes quando estavam juntos? Seria o sofrimento silencioso menor? Ou o choro que explodia, de forma pirotécnica, semelhante ao das carpideiras, seria uma dor mais intensa e mais sofrida? E se o finado pudesse dizer algo sobre todos aqueles que vieram se despedir, que história teria para contar? Olhe quem chegou! É a oportunidade de conhecer a história real que muitas vezes é desconhecida, descrita pela pessoa que deixou o mundo dos viventes, como se a memória do finado estivesse viva. Quem realmente fez a diferença na caminhada? Quem foi o ombro amigo, foi fiel, estendeu a mão ou apoiou em diferentes fases da existência que se foi? Caso a relação real pudesse ser vista por outros, talvez produzisse os mais diferentes sentimentos de reprovação naquelas pessoas que estariam prestando a última homenagem ao viajante que tinha acabado de partir. O Autor