A economia solidária comporta consigo um projeto de desenvolvimento local sustentável capaz de alavancar pequenos grupos e localidades esquecidas pelas políticas públicas. Por atuarem em rede, esses empreendimentos econômicos solidários resgatam a esperança da classe trabalhadora de se libertar do jugo do despotismo do emprego e encontrar a sua realização no prazer do trabalho. A autogestão, um dos princípios básicos da economia solidária, é uma ferramenta pedagógica de formação de todos os envolvidos, pois exige a participação dos sujeitos em relação de igualdade não só no processo de produção, mas na de tomada de decisão do empreendimento, ou, em grau mais elevado, na sociedade. Daí a necessidade da consolidação do movimento de economia solidária numa perspectiva político-pedagógica e teórico-popular para disputar a hegemonia e emancipar os trabalhadores. A construção coletiva da autogestão, necessariamente, requer uma educação para a cooperação, para liberdade, para a autonomia e para a solidariedade e para a superação do paradigma neoliberal da competitividade mercadológica. Mas este ato pedagógico não se sustenta apenas em conceitos, ele exige a prática, uma práxis social paradoxal àquela predominante no sistema capitalista, que exija uma predisposição à reciprocidade, uma vivência, uma ação obstinada e que considere o humano sua finalidade, e não recurso ou meio. Essa práxis deve reconciliar o humano com a natureza, e com ela buscar o equilíbrio da existência. Por isso, se faz necessária uma práxis que valorize a vida, em sua plenitude, em primeiro lugar. A superação dessas amarras e a busca pela autogestão têm a ver com a emergência de um novo paradigma humano, que sobreponha os princípios econômicos capitalistas por princípios éticos, coletivos e emancipadores. Com o propósito de compreender e contribuir com esse processo de transformação social criamos, em 2002, na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), o Programa Institucional de Educação e Socioeconomia Solidária (PIESES). Esse programa, além de abrir um diálogo com os movimentos sociais, vem promovendo sistematicamente a reflexão sobre a sua prática. As publicações da Série Sociedade Solidária se tornaram a forma de expandir e socializar essas reflexões e experiências. O presente livro é o quinto volume da série, o qual procura expor ao debate a aventura do utópico concreto ligado à economia solidária.