Podemos definir o ser humano como um constante embate de forças internas e externas. É, portanto, normal que haja conflitos em sua interação com o meio, a sociedade a qual constitui e da qual participa. Caso esses conflitos não sejam resolvidos através de diálogos, ou quaisquer outros meios, podem extrapolar como violência – contra si mesmo e/ou contra outrem. Nesse arcabouço vital também se inserem os grandes questionamentos humanos: a respeito de sua origem, da existência empreendida à custa de tantos sacrifícios, da finalidade da vida, isto é, o seu "para onde ir". Em geral, as respostas para estas demandas, desde o início das comunidades humanas, estiveram ligadas à dimensão religiosa. Trata-se, dito de outro modo, de uma capacidade de autotranscedência capaz de projetar sentidos e significados, por vezes de coesão e continuidade, mas também de ruptura com a ordem estabelecida e deflagração de novos começos. Na continuidade de trabalhos que se dedicaram a este horizonte de interpretações, este livro representa o esforço por reunir diferentes perspectivas de enfrentamento, acionando igualmente múltiplas concepções teóricas que, apesar de sua pluralidade, encontram-se ao redor da relação entre religião e violência, seja como expressão da cultura, como reação à intolerância, como discussão da etnicidade, da dialogia e da historicidade em jogo em temas como candomblé, tradições culturais corpóreas, o fenômeno midiático, a banalização da morte, o feminicídio, entre outros. É, por isso, um trabalho catalizador de olhares que se encontram na atualidade dos temas abordados.