Este livro começa e termina com referências a Carolina Maria de Jesus. Como a autora do “Quarto de Despejo”, Deocleciana Ferreira nos brinda aqui com memórias da vida nas periferias de São Paulo, das quais extrai uma perspectiva ímpar sobre as desigualdades urbanas. Escrito com o barro nos sapatos e com a inteligência que emana dos que conhecem a vida, este livro tem por palavra-chave a “luta”. Os moradores da Fazenda da Juta entregaram literalmente seu sangue, seu suor e suas lágrimas pelo direito de existir na cidade. Aprenderam e ensinaram como resistir em tempos sombrios, para florescer quando vem a chuva. Abriram caminhos quando as portas estavam fechadas e viram corpos de amigos tombarem, muitas vezes. Seguiram sempre juntos, escrevendo a história e venceram. Deocleciana leu, assistiu e viveu na pele o drama narrado nesse livro, no feminino. Um século da história da Juta é um século da história de muitas, de muitos. Rompe-se a barreira entre o intelectual orgânico e o intelectual acadêmico. Conhecendo histórias de moradores e de suas conquistas, detalhadas dos anos 1970 até a regularização final em 2016, seguimos lado a lado com Deocleciana Ferreira que, como Carolina de Jesus, faz da memória daqueles que lutaram, uma inspiração emancipadora. Gabriel Feltran