Final de semana em Porto Alegre, uma mulher ouve um estranho chegar ao corredor do prédio quase vazio e pedir ajuda, um pedaço de pão que seja. Ainda com a porta fechada, os dois iniciam uma conversa cujas consequências não se pode prever.
Marquinhos joga por um time da segunda divisão gaúcha. Em meio a uma partida decisiva, ele precisa escolher se arrisca tudo o que tem de seu.
Trinta anos depois do final de um relacionamento, um homem encontra um bilhete que o coloca diante de uma perspectiva totalmente diferente.
Um músico solista sente-se pressionado em meio às falsas gentilezas do maestro e chefe.
Essas histórias estão entre os 22 contos deste Abra e Leia. Há ironia e intensidade. A erosão dos relacionamentos e as separações aparecem de modo recorrente. As referências à música erudita, ao cinema e à literatura cumprem funções que vão além do meramente figurativo. A solidão emerge por toda parte. Sobretudo, os personagens e as situações em que se envolvem são complexos. Eles não estão no controle do que lhes ocorre. Nada é o que parece. A surpresa, porém, não se dá por meio de reviravoltas bruscas ou finais surpreendentes. Diferente disso, em vários dos contos deste livro, sem que nos déssemos conta a princípio, a narrativa nos coloca frente a uma perspectiva inesperada. São histórias que nos tiram do conforto das certezas e abrem um campo de possibilidades. Entrever essas possibilidades, imaginar. Eis o que fica em nós por um tempo que se estende para além da leitura. Esse é um dos melhores presentes da ficção.
(trecho da orelha do Luís Augusto Farinatti)