A edição de 1812 da Ciência da Lógica de Hegel ainda hoje é uma obra rara para leitores de língua portuguesa. Lima Vaz a traduziu nos inícios dos anos 1980, uma tradução inédita e atual que oportunamente vem preencher uma importante lacuna ao mesmo tempo nos estudos sobre a Lógica de Hegel e sobre a formação do pensamento de Pe. Vaz.

Em sua contínua visitação, a Ciência da Lógica constitui o núcleo do projeto vaziano de uma mediação entre o pensamento antigo e o pensamento moderno, mais especificamente entre Platão e Hegel. Caso em que, conforme Lima Vaz, nos Escritos de Filosofia III, a doutrina hegeliana do conceito retoma em sua plenitude a doutrina das ideias do filósofo ateniense.

Mesmo concebida como ontologia em Platão e Hegel, a dialética não dera o passo decisivo da adaptação ao conteúdo histórico ou à vivência real do sujeito que, enquanto ser-no-mundo em um tempo histórico determinado, pensa esse tempo em conceitos. Não apenas o filósofo em seu ofício crucial, mas também o cidadão cuja polis é cada dia mais e mais global.

Eis o passo dado por Lima Vaz, do qual a tradução que o leitor e a leitora têm em mãos se mostrou uma primeira aproximação. Passados cerca de quarenta anos desse esforço, o que se extrai dele é justamente a exigência de adaptação já aludida. Situação inédita em que um trabalho em princípio didático, e assim premido pela necessidade do tempo, se transforma em um elemento essencial para a compreensão da trajetória de seu autor — no caso, seu tradutor.

Hegel é aqui renovado em sua intenção e em seu espírito. Chega a um novo mundo ainda destituído de formação cultural propriamente filosófica, mas encontra um espírito afim, no qual o espírito vivo de sua obra manifesta-se alegremente.