O Brasil é um arquipélago cultural, para usarmos a expressão de Vianna Moog, na sua interpretação da literatura brasileira. Por sua vastidão territorial, em uma época com todo o tipo de dificuldades de comunicação, o Brasil fez surgir núcleos espalhados por suas variadas regiões. Estes núcleos ficaram fechados em si mesmos, como mônadas leibnizianas, sem portas e sem janelas. Só em tempos mais recentes eles se abriram, se divulgaram e se cotejaram. Por óbvio, as regiões centrais do país, porque incluindo o poder político e o econômico, se destacaram e se tornaram mais visíveis e, por vezes, se apresentaram como únicas no país. As regiões periféricas se tornaram desconhecidas. Seus nomes mais destacados só se tornaram visíveis quando deslocados para o centro, por razões políticas ou por oportunidades profissionais e/ou culturais. O Brasil apresentou, no seu desenvolvimento, diferentes polos, como Salvador, Recife, Fortaleza, Belém do Pará, Ouro Preto/Belo Horizonte e Porto Alegre/Pelotas. O nascimento de Universidades, principalmente a pós-graduação com suas pesquisas, e a facilidade de intercambio comunicacional oportunizaram a visualização do espírito desses polos-núcleos. O presente estudo de Lorena Madruga Monteiro permite descobrir um destes núcleos periféricos, a saber, o grupo presente e atuante no Rio Grande do Sul: o Grupo Leigo Católico Jesuítico, originário em Porto Alegre, com raízes em São Leopoldo e ramificações por todo o estado. Este grupo só encontra similar no Centro Dom Vital do Rio de Janeiro e no Grupo paulista criado pelo Padre Walter Mariaux SJ. Lorena, com faro pesquisador inexcedível, vasculhou bibliotecas, descobriu arquivos, buscou fontes, encontrou textos, penetrou em secretarias de unidades universitárias, entrevistou meio mundo e fez nascer um trabalho que a coloca como a melhor conhecedora do Grupo Católico do Rio Grande do Sul. No seu estudo, Lorena examina as origens históricas dos inspiradores do grupo: os Jesuítas alemães do Sul; a presença do Grupo no meio educacional pelos seus colégios inspirados na ratio studiorum; o nascimento de instituições como as Congregações Marianas (Mater Salvatoris e Auxilium Christianorum), o Centro Católico de Acadêmicos (CCA) e a Associação dos Professores Católicos (APC), todos em Porto Alegre, que vão concretizar e materializar as ideias de inserção social do grupo; a liderança de vultos exponenciais como o nobre jesuíta alemão Padre Werner von und zur Mühlen e o capuchinho francês Frei Pacífico de Bellavaux; a influência de escolas filosóficas como o tomismo e a neoescolástica, em suas diferentes manifestações e de pensadores como Nicolai Berdiaeff e Jacques Maritain na formação do bloco doutrinal que unia o grupo; a difusão das ideias da confraria no meio educacional, inclusive nas escolas públicas de nível primário, secundário e superior, e no meio político, em praticamente todos os partidos então existentes; o surgimento de alguns intelectuais como Armando Câmara, que chegou a ser Senador da República, Ernani Maria Fiori, cassado pelo Golpe de 1964 e Laudelino Medeiros, examinador presente na defesa da tese de doutorado de Fernando Henrique Cardoso, os quais balizam, por escolha pessoal da autora, a atuação do grupo, que poderia também ser representado por Adroaldo Mesquita da Costa, ex-ministro da Justiça, Álvaro Magalhaes, destacado orientador das publicações científicas da Editora Globo e Rui Cirne-Lima, eminente jurista. O Grupo Católico foi combativo e seus alvos preferidos foram o materialismo científico e o positivismo castilhista. Fica evidente, no trabalho de Lorena, que na criação da Universidade de Porto Alegre, mais tarde Universidade do Rio Grande do Sul e, finalmente, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, havia um grupo preparado e pronto para conquistar as cátedras com disciplinas que envolviam conotação filosófica. Merece aplauso a publicação dessa tese. Ela contribuirá para um melhor conhecimento do polo cultural do Rio Grande do Sul. Temos certeza que seu trabalho provocará outros estudos e aprofundamentos que ampliarão os horizontes do conhecimento sobre o Brasil e sua cultura.