Organizado pela curadora Ana Paula Cohen, o livro Rodrigo Cass: libera abstrahere apresenta uma ampla abordagem sobre a obra do artista. Na primeira parte, é introduzida a obra Manifest Material [Material Manifesto] (2021-2023), hoje na coleção do Centro Pompidou, instalação em que esculturas de concreto de formatos variados foram criadas para que diferentes vídeos fossem projetados em suas superfícies. Na segunda parte, é oferecida uma extensa seleção de obras que perpassa toda a carreira do artista, revelando conexões e desdobramentos existentes entre seus trabalhos.
Explorando os conceitos de matéria e espiritualidade, Cass constrói sua obra em diálogo; Lygia Clark, Eva Hesse e Lina Bo Bardi são alguns exemplos de artistas cujas obras surgem em homenagens e citações, e que se somam a referências à iconografia bizantina. A têmpora, técnica usada pelos pintores bizantinos, foi a primeira prática artística estudada e praticada por Cass, ainda durante sua formação religiosa no Mosteiro da Transfiguração, com monges camaldolenses, em Mogi das Cruzes, em 2001.
Manifest Material, formada por 12 pinturas, 12 vídeos e um texto-manifesto do artista dividido em 12 partes, traz o uso que Cass faz da simbologia das cores e da força imanente da luminosidade.
Já a segunda parte do livro é dedicada a obras que, entre o político e o poético, abrangem a produção de Cass entre 2011 e 2023, sem, necessariamente, seguir uma ordem cronológica. Como escreve a organizadora: “As voltas e revoltas são parte do processo, e duram toda uma vida, a não ser para quem atinge a iluminação. Assim é também o caminho do artista, por vezes alcança altos níveis de manifestação em sua obra e por vezes experimenta a queda de volta à terra, ao mundano, dando sequência, no dia seguinte, ao labor, ao processo de transformação contínua da matéria por meio da prática.”
Rodrigo Cass: libera abstrahere traz um ensaio da organizadora sobre a obra do artista, e outro sobre Manifest Material assinado pelo crítico e doutor em história da arte Frédéric Paul, hoje curador do Centro Pompidou, em Paris.
Trecho
“O retângulo, o quadro, a moldura, o marco, os ângulos retos que estruturam e aprisionam as subjetividades ocidentais/ocidentalizadas estão presentes em cada elemento da nossa arquitetura (cantos, janelas, pisos), assim como delimitando todas as formas de representação bidimensional (fotografias, pinturas), e recortando toda imagem vista por intermédio de telas de computador, celular, de cinema ou de televisão. Nosso filtro para o mundo, o corte e recorte de nosso olhar, é o retângulo, muitas vezes abstraído mesmo pelo olhar mais atento, que chega a acreditar na “neutralidade” de todas as convenções ocidentais restritas a ângulos retos, dos azulejos às cadeiras e mesas, dos livros aos mapas de navegação do planeta. Frequentemente nos esquecemos que nossos corpos e o corpo da terra se constituem de formas orgânicas, sem ângulos retos, e que a vida flui em movimentos mais próximos aos desenhos de rios ou de raízes, sem seguir a dureza da arquitetura ocidental ou o tempo linear cronológico.
Nesse sentido, a organicidade, o transbordamento, as quedas e ascensões são parte da busca pela essência do vivo que está em todos os corpos.” (Ana Paula Cohen)
Sobre o artista
Rodrigo Cass nasceu em São Paulo em 1983, onde vive e trabalha. A primeira formação artística de Cass foi como iconógrafo no Mosteiro da Transfiguração, em Mogi das Cruzes, São Paulo, em 2001. Entre 2000 e 2008, viveu no Convento do Carmo como religioso carmelita da Ordem do Carmo. Em 2006, concluiu o bacharelado em Artes Visuais na Faculdade Santa Marcelina, São Paulo, onde estudou com artistas como Leda Catunda, Raquel Garbelotti, Arthur Lescher e Shirley Paes Leme. Estudou dois anos (2007–2008) de filosofia e teologia na Faculdade Jesuíta em Belo Horizonte. Depois de sair do convento, participou do Programa Bolsa Pampulha em Belo Horizonte (2010–2011), dirigido pela curadora Ana Paula Cohen, e do piesp — Programa Independente da Escola São Paulo (2011–2012), dirigido pelo curador Adriano Pedrosa e codirigido por Carla Zacagnini. Em 2014, passa a ser representado pela Fortes D’Aloia & Gabriel.
Sobre Ana Paula Cohen (organizadora)
Ana Paula Cohen é curadora independente, editora e escritora. É coordenadora da pós-graduação em Estudos e Práticas Curatoriais, na FAAP, e doutora pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade, na PUC-SP. Foi curadora residente no Center for Curatorial Studies, Bard College, Nova York, cocuradora da 28ª Bienal de São Paulo e cocuradora do Encuentro Internacional de Medellín, na Colômbia. Cohen foi professora visitante no mestrado do California College of the Arts, em San Francisco, diretora do Programa Bolsa Pampulha, em Belo Horizonte, e codiretora do Programa Independente da Escola São Paulo — piesp. Entre as exposições que curou, estão: Embodied Archeology of Architecture and Landscape, no Tel Aviv Museum; On Cohabitation: films by Y