Autor de obras conhecidas - Geografia e modernidade, A condição urbana, O lugar do olhar, entre outras -, Paulo Cesar da Costa Gomes propõe em seu novo livro que a geografia é uma forma de pensar, uma forma gráfica de estruturar o pensamento, e que a construção do raciocínio geográfico se dá através da significação, a partir do jogo de posições entre elementos espacialmente localizados. Como esse raciocínio se estrutura? Qual o campo comum sobre o qual opera o entendimento geográfico? Essas são algumas das perguntas fundamentais contempladas em Quadros geográficos, obra indicada não apenas aos estudantes de Graduação ou Pós-Graduação, mas a todos aqueles que têm curiosidade em discutir e conhecer as propriedades e competências de um saber geográfico. "A geografia é uma forma original de pensar. Essa é a hipótese anunciada logo nas primeiras páginas de Quadros geográficos. À medida que a leitura avança, a hipótese de partida se desdobra em uma fecunda afirmação: a geografia é uma forma gráfica de estruturar o pensamento, fundada na descrição, e cujo instrumento elementar é o quadro. Tomado de forma abrangente, o quadro designa aqui qualquer superficie sobre a qual elementos diversos são apresentados segundo princípios básicos de localização, extensão e morfologia. O raciocínio geográfico que se apoia neste instrumento é aquele que constrói significações a partir do jogo de posições entre elementos espacialmente localizados, reunidos em uma composição que pode se revelar graficamente. Se a hipótese do livro é ousada, ambicioso também é seu estilo de argumentação. Os mesmos quadros que constituem o objeto do trabalho servem de recurso para conduzir o leitor pela demonstração da ideia central. Tal como molduras, os capítulos propõem novos pontos de vista que fazem surgir associações inéditas entre personagens célebres e suas ideias - Ptolomeu, Estrabão, Kant, Humboldt, Vidal de La Blache, apenas para citar alguns. Reagrupados a partir de novos arranjos, esses personagens e ideias ora se avizinham, ora se distanciam, embora jamais sejam concebidos como determinantes uns dos outros. As continuidades e as transformações evidenciadas a partir destes quadros sugerem também novas chaves para interpretar o desenvolvimento deste modo singular de pensar o mundo, ao qual os gregos antigos associaram o evocativo e polifonico vocábulo grafia (desenho, marca, inscrição, registro). Pela concisão da forma e pelo prazer que proporciona, a leitura de Quadros geográficos se assemelha à audição de uma peça musical. O livro pode ser percorrido integralmente de maneira corrida, para se ter a impressão do conjunto. Dada a sofisticação dos argumentos, entretanto, ele merece ser lido, executado, repetidas vezes, demorando-se nas frases, passagens e conexões. A estrutura do arranjo é a de um tema com variações. Após a exposição inicial, a ideia fundamental é reiterada, com alterações, e desenvolvida em uma sequência de episódios que convocam novas "vozes" para apresentar diferentes declarações sobre o mesmo tema. Conhecemos, portanto, desde a abertura o ponto de chegada da obra, mas é apenas ao trilharmos o percurso proposto pelo autor que a ideia se manifesta em toda a sua potência, descortinando assim um novo horizonte de questões. Trata-se de uma escuta que certamente seduzirá os espíritos curiosos e imaginativos e, sobretudo, aqueles abertos ao prazer da reflexão." - Leticia Parente Ribeiro (Departamento de Geografia/UFRJ)