O historiador social britânico Alan Macfarlane mostra em História do casamento e do amor de que modo os costumes e as tradições referentes ao casamento e à família influíram decisivamente no perfil demográfico da Inglaterra, cuja população, apesar de ter se mantido estável por um longo período, aumentou rapidamente durante a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, garantindo os recursos humanos que fizeram dessa nação a maior potência mundial.Desde a Idade Média, os ingleses se casavam em uma idade relativamente tardia, ao contrário do que ocorria em outras partes; a escolha dos parceiros sempre foi pessoal, não sendo influenciada por interesses familiares ou de grupos sociais; os pais não contavam com ajuda econômica dos filhos, o que não estimulava a formação de uma prole numerosa, como é comum atualmente em muitos países subdesenvolvidos. Mais importante ainda, os ingleses sempre levavam em conta, quando se tratava de casamento e de filhos, suas possibilidades financeiras: somente constituíam família quando dispunham de renda suficiente.Essas características não nos soam estranhas e até nos parecem modernas, o que demonstra o quanto tais práticas e atitudes, antes encontradas apenas na Inglaterra e em regiões do norte europeu, se difundiram e se tornaram comuns no mundo ocidental. Daí o enorme interesse desta polêmica História do casamento e do amor, obra que lança uma nova luz sobre as relações entre crescimento populacional e desenvolvimento econômico e propõe uma revisão da cronologia e das próprias causas do surgimento do capitalismo.Alan Macfarlane leciona antropologia social na Universidade de Cambridge e é professor no King's College. Também escreveu Witchcraft in Tudor and Stuart England (1970), The family of Ralph Josselyn (1970), Resources and population (1976), Reconstructing historical communities (1977), The origins of english individualism (1978), The Justice and the Mare's Ale (1981) e A cultura do capitalismo (Jorge Zahar, 1989).