O processo de universalização do ensino viveu diferentes momentos na educação brasileira, impulsionado pela pressão dos meios populares organizados e pelo contexto econômico em constante transformação. Levando em consideração as críticas que são feitas à instituição escolar por autores tais como P. Bourdieu, J-C. Passeron e L. Althusser, este trabalho tem por objetivo investigar como as tensões, novas e antigas contradições são (re)produzidas na escola pública à medida que a heterogeneidade, através da presença de sujeitos (crianças, jovens, pais, programas, profissionais de outras áreas) que trazem consigo características diferentes do previsto – linguagens, ações, costumes –, adentra a escola e nela permanece, confrontando-se com a homogeneidade impregnada em seu projeto cultural, historicamente construído. Para tanto, busca-se nas contribuições de B. Lahire, J. Ezpeleta e E. Rockwell o entendimento da cultura escolar, da cultura da escola, das disposições, da história documentada e não documentada, produzidas no cotidiano escolar e que fazem com que cada escola constitua-se distinguindo-se das demais ou assemelhando-se entre si. A análise foi sustentada pelo confronto entre os dados descritos e os conceitos selecionados das abordagens teóricas eleitas, em especial, as categorias de reprodução, habitus, disposições, cotidiano escolar e contradição. Em termos de procedimentos metodológicos, foram realizados dois estudos de caso etnográfico, reunindo elementos do cotidiano de duas escolas de periferia de Passo Fundo. Os resultados das análises dos dados produzidos são expostos em dois tópicos: por um lado, os fatores intraescolares que caracterizam e constituem o modo sobre como as tensões provenientes do convívio com o heterogêneo, descritos através das categorias: Acolhimento, Discurso sobre o lugar e a função da escola, Autoridade centralizada versus gestão colegiada; e, por outro, os fatores extraescolares, que evidenciam as relações da escola com o contexto externo a ele e que atravessam a vivência dessas tensões, descritos através das categorias Relação família/escola, Políticas públicas educacionais e sociais. Concluiu-se, que há um investimento de ambas as escolas na presença do aluno, no acolhimento, na gestão escolar, no investimento pessoal da equipe diretiva, para que o aluno permaneça no ambiente escolar, construindo nesse processo a identidade da escola. Porém, apesar de cada escola possui sua identidade, a cultura da escola, a qual cria-se a partir de seu contexto e sua demanda, ainda assim, a cultura escolar está presente, sustentando-se institucionalmente, produzindo e reproduzindo tensões, novas e antigas contradições.