Autor do best-seller Cidade de Deus, de 1997, Paulo Lins propõe reflexões sobre equidade social, altruísmo e esperança em Um novo sol, escrito em parceria com Flávia Helena, sua mulher. A história, que foi dividida em duas partes, é inspirada na comunidade Mãe Luiza, em Natal, Rio Grande do Norte, que foi criada no fim da década de 1950, e passou a receber, em sua maioria, retirantes fugindo da seca. Quando a procura por um lar na cidade grande encontrava portas fechadas e preconceito, era 'Mãe Luiza' que recebia seus filhos.
A primeira parte do livro é uma narrativa ficcional baseada na realidade difícil dos bairros pobres e das favelas do Brasil, onde a desigualdade social é mazela escancarada. É a história da família de José e Dona Lucia com os filhos Regina, Neuza, Chico e Fefedo, que são obrigados a fugir da seca do sertão, imigrando para a cidade grande. Nem todos os membros da família concordam com essa grande mudança – não se encaixar em um novo lugar pode ser mais assustador do que a sede - mas, ainda assim, a família migra em busca de uma vida melhor.
A nova vida apresenta outros desafios como a busca por moradia, trabalho e uma existência menos sofrida. A cidade é bonita, tem praias e prédios altos, mas também olhares que discriminam pela origem e a cor da pele. Em meio às dificuldades, a comunidade de Mãe Luiza os acolhe, ainda que não possa oferecer o básico - saúde, educação e segurança. Contudo, é possível sentir a luz da esperança brilhar uma vez que, aos poucos, eles conseguem vencer suas batalhas.
A segunda parte do livro mostra como, nos últimos 30 anos, o distrito de Mãe Luiza passou de uma favela miserável a uma comunidade ativa, evidenciando a importância dos esforços de alguém que fez toda a diferença para o lugar: Padre Sabino Gentille, figura de alta relevância na história da comunidade. O religioso lutou pela emancipação de Mãe Luiza, pela melhoria da qualidade de vida dos moradores, incremento de serviços públicos e ajudou a promover uma cultura de solidariedade, que é a marca do lugar.
Com o passar do tempo, Mãe Luiza ganhou escolas especiais, projetos para gestantes e espaços para idosos, a violência foi reduzida, e a taxa de homicídios caiu consideravelmente. “É claro que a equidade social não deveria precisar ser conquistada. Qualquer indivíduo deveria estar incluso socialmente de forma natural, só pelo fato de ter nascido. A questão é que a distribuição de riquezas é desigual entre nações, estados, cidades e sociedades. Por isso, a luta para termos um mundo mais justo deve partir de toda pessoa de boa vontade”, diz Paulo Lins no prefácio da obra. Ele conta também como a ajuda de duas professoras foi essencial para que ele não se sentisse excluído socialmente: “Hoje, sou formado em Letras, sou escritor, trabalho com cinema e televisão graças às pessoas de boa vontade que trabalharam e lutaram por justiça social, da mesma forma que as pessoas que encontrei em Mãe Luiza. Fui convidado para escrever esse romance – de final feliz – sobre como se pode ajudar pessoas a terem os seus direitos humanos reconstituídos, devolvidos ou até mesmo adquiridos”.