Almas Mortas e O Inspetor Geral, de Gógol, constituíram dois marcos extraordinários na história da literatura russa. Ali, até o início do século XIX, as obras formadoras e dominantes da língua haviam sido as do poema e da épica, sobretudo as de Lomonossov e as de Púschkin. Com Gógol, a prosa adquiriu o status de arte e a realidade do país revelou-se, com o espanto de muitos, para além de sua aparente leveza de burla, um retrato amargo, impiedoso e grotesco da sociedade. Por isso mesmo, a idéia central do romance, sugerida por Púschkin após a leitura de uma nota jornalística, permitiu a Gógol pintar brilhantemente uma enorme variedade de personagens, cuja força reside em seu poder de caracterização do universal pelo específico, o que levou Púschkin a dizer, apesar de toda comicidade ali destilada: 'eu não ri, chorei, Deus, como é triste a nossa Rússia'. Assim, a denominação 'almas mortas' constitui não apenas a metáfora de um golpe ou de uma prática ardilosa no regime czarista, mas ainda uma expressão de até onde pode ir o decaimento do espírito humano, a contradição em que ele pode entrar com todo o padrão ético e fundamento religioso da existência. Este duplo retrato é o que certamente torna perene a obra, o riso 'gogoliano' que, até hoje, chega ao leitor, não só em sua textualidade autoral, como no rastro que deixou na literatura de Turguêniev, Dostoiévski, Bábel, na poesia e no teatro, o que representa, sem dúvida, o signo maior da visão e da força de linguagem deste escritor russo-ucraniano. N. Cunha e J. Guinsburg
Código: |
45276 |
EAN: |
9788527308106 |
Peso (kg): |
0,400 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
12,50 |
Espessura (cm): |
2,40 |
Especificação |
Autor |
Achille Mbembe |
Editora |
PERSPECTIVA |
Ano Edição |
2011 |
Número Edição |
1 |