Patrick Bateman é um sujeito "aparentemente" invejável. Jovem, bonito, bem nascido e bem educado, ele trabalha em um conhecido banco de investimentos em Wall Street, enquanto passa as noites entre jantares, boates e festa particulares, regadas com todos os aditivos inerentes ao lado mais sombrio da vida noturna de Nova York no final dos anos 1980. Bateman, porém, tem alguns segredos bem guardados. Por trás da fachada de normalidade, possui o instinto de um serial killer, com toda a torpeza, degradação, asco e repulsa que um psicopata consegue provocar. Formado em Exeter e Harvard, Bateman também é gourmand, entusiasta do bronzeamento artificial e de infindáveis tratamentos estéticos, implacável crítico de moda e consumidor ávido das últimas traquitanas tecnológicas de então, como aparelhos de som 3x1 e videocassete. Mora em um luxuoso apartamento no Upper West Side, em Manhattan e é vizinho do astro de Top Gun, Tom Cruise. No romance, acompanhamos os dias e noites de Bateman, que seriam banais, não fossem os crimes abjetos e sem razão aparente que ele comete e de maneira que não conseguimos compreender. Sem remorso. Sem piedade. Contra mulheres. Contra mendigos. Contra músicos de ruas. Contra colegas. Contra crianças. Expressando seu verdadeiro eu através da tortura e do assassinato, Bateman prefigura um horror apocalíptico que nenhuma sociedade suportaria encarar. Uma violência represada, escondida, inaudita, porém insistentemente presente na sociedade norte-americana, como o autor sugere ao descrever o programa de tv favorito do protagonista, The Patty Winters Show, que apresenta trivialidades (como dicas de beleza da princesa Diana), sensacionalismo (“Adolescentes que trocam sexo por crack”) e horror real (assassinos de crianças e neonazistas). Considerado hoje um clássico moderno da literatura norte-americana, Psicopata Americano inaugura o selo Crime Scene® Fiction na DarkSide® Books. O novo selo vai apresentar o melhor da ficção relacionada ao tema, com o mesmo cuidado da Crime Scene®, a linha editorial dedicada histórias e crimes reais. Mas o histórico do livro é controverso: a editora Simon & Schuster desistiu de publicar a obra no final de 1990, um mês antes de sua chegada às livrarias, mencionando sua brutalidade e violência. O livro chegou a ser publicado no início de 1991 pela editora Vintage, tornando-se um best-seller instantâneo e infame. Seu autor Bret Easton Ellis recebeu ameaças de morte. A turnê de lançamento foi cancelada. Organizações feministas defenderam o boicote à obra pela misoginia e violência contra mulheres. Livrarias se recusaram a vender a obra. O que teria causado tal reação? Bret Easton Ellis conseguiu produzir um relato cáustico e uma crítica mordaz sobre a banalidade da violência, o consumismo supérfluo e exibicionista e o vazio da geração de yuppies que viveu sua juventude na década de 1980, discutindo combinações de roupas e outras futilidades diante de drinques e pratos exóticos e esdrúxulos em caríssimos e concorridos restaurantes da moda. Para completar, o ídolo do protagonista e narrador é ninguém menos que o então empresário Donald Trump. Sua obra a Arte da Negociação é seu livro de cabeceira. O sonho de Bateman é ser convidado para alguma festa em que o empresário, apresentador de reality show e futuro presidente dos EUA estivesse presente. A obra foi adaptada para o cinema em 2000, com Christian Bale no papel do protagonista, além de Chloe Sevigny, Jared Leto e Reese Witherspoon, e direção de Mary Harron, que proporciona um olhar único sobre uma obra repleta do pior lado da testosterona. Em 2013, tornou-se um musical em Londres, com letra e música de Duncan Sheik, chegando a Broadway em 2016. Em retrospecto, porém, é difícil não considerá-lo visionário. Bret Easton Ellis conduz os leitores a encarar o sonho americano — e, em sua sombra, o pesadelo. Na conduta abominável de seu psicopata, o autor denuncia os riscos da falta de empatia e da dessensibilização perante a violência, apontando a relevância de uma discussão que hoje, mais do que nunca, se faz necessária. Monstros modernos como Patrick Bateman nos levam a enxergar o adoecimento de nossa sociedade e a reconhecer que o horror muitas vezes não é uma ameaça fantasmagórica ou alienígena; o horror pode estar ao nosso lado. É nesse reconhecimento que obras como Psicopata Americano denunciam a banalização da violência e a glorificação de criaturas hediondas, dentro e fora do universo ficcional.