Vale do Sossego, romance de estreia de Sergia Alves, é a história de uma família da zona rural do Piauí, zona do agro e das carnaubeiras, uma longa saga contada do ponto de vista feminino, desde Bárbara (1919), a mãe fundadora que se torna amante do Coronel – uma criança resgatada em meio às chamas de sua casa incendiada e pais assassinados por aquele mesmo coronel com quem se unirá anos depois – até Mina (2012), sua bisneta.
Embora atravesse décadas – de 1919 até 2012 – essa história não vai contar grandes feitos ou acontecimentos nem bordejar os eventos da História do Brasil e Mundial, linearmente, tal como fazem os homens narradores e os livros de história, nada disso, Vale do Sossego contará, por outra, as mil histórias dos amores e desamores, das paixões e desatinos, de como eram as comidas, os doces, as festas, as danças, os costumes, os bastidores da vida, os descaminhos do coração e da alma de seus personagens desde o início do século XX até nossos dias, numa saga circular: condenada eternamente a repetir suas maldições. E sua sentença de morte.
Desse modo, entendemos Vale do Sossego como um épico rural brasileiro pós-moderno, escrito numa prosa elegante, esfriada, cosmopolita, nessa linguagem refinada que caracteriza Sergia Alves – e aí se assinala como extremamente original – autora que promete muito e que estreia com brilho nas letras contemporâneas.