Ao longo deste livro o leitor é convidado a navegar por várias regiões do conhecimento do homem, que se estende por numerosos campos de estudos, não obstante, entrelaçados na antropologia filosófica. A pergunta o que é o homem é a mesma indagação sobre o sentido e a sua essência, que havia sido formulada desde os gregos, mas, o mérito da pergunta não se esgota para a filosofia, dado que o próprio homem, desde sempre, não se compreende perfeitamente, ele permanece para si mesmo um ser enigmático. O leitor ao acessar a amplitude dos textos compilados nesta obra, imediatamente percebe que há um círculo hermenêutico em forma de círculo antropológico imbricado na compreensão da pergunta pelo homem, que nos aponta para o horizonte totalmente sem pressupostos. Ainda torna-se necessário considerar os pressupostos irrefragáveis em que os filósofos compilados nesta coletânea de estudos devem se apoiar, mesmo constatando o fato do autor mais representativo entre os gregos – Sócrates não se encontrar presente na discussão deste livro, contudo, foi ele quem impulsionou a base do pensamento antropológico filosófico, sobretudo exaltando a superioridade da alma humana, na qual, repousa a definição universal de humanidade. A partir disto, o problema antropológico grego se torna mais evidente quando os sofistas fizeram do problema da cultura o problema maior da filosofia, identificando o homem como sujeito de suas ações. Na verdade, Sócrátes revoluciona a tábua de valores ateniense que permite transvalorar a cultura vigente totalmente voltada para exterioridade. Os gregos, em busca de uma definição de ser humano, inserem no debate filosófico a noção de alma, por assim dizer, nos primórdios da história da filosofia elegem a primazia da alma sobre o corpo que vai se tornar o modus operandi de todo fazer antropológico no medievo cristão. Séculos mais tarde, o dualismo, em todas as suas formas é refutado veementemente. O problema da unidade do homem na relação corpo e alma sempre foi alvo de muita discussão em diversos ramos do conhecimento, desde a filosofia à epistemologia da religião. A problemática gira em torno do debate sobre o dualismo antropológico e a constituição ontológica do ser humano. Na verdade, há um enfrentamento entre a concepção grega do corpo e a concepção cristã da carne, que desde já registram algumas oscilações em suas posições. Uma reflexão a partir da teologia carne presente nos textos tardios de Santo Agostinho poderá nos iluminar para se pensar a questão do lugar e a bondade do corpo na teologia cristã, por outro lado, encontraremos contestações em decorrência ao legado platónico que se arrasta ao longo da tradição cristã, onde Agostinho está inserido, pelo fato de se estabelecer o primado axiológico da alma sobre o corpo. Mesmo assim, apesar de toda negatividade a respeito do valor do corpo humano na ordem da criação, alguns autores da Patrologia latina ousaram em afirmar a positividade do corpo na ordem dos bens da criação. Os textos compilados nesta obra intitulada, o que é o homem? Ensaios de antropologia filosófica, mesmo na ausência de muitos autores do período tardo-antigo, pretendem remeter o autor às doutrinas da mundividência clássica, à exemplo, citamos Pascal que formula seu pensamento, sempre na esteira agostiniana. Nilo César Batista da Silva, natural de Icó – Ceará, doutor em filosofia, Universidade do Porto - Portugal, pesquisador em Filosofia Medieval, estudos concentrados em Santo Agostinho. Andrei Venturini Martins, natural de São Paulo, doutor em Filosofia Moderna, estudos concentrados em Blaise Pascal.