As celebrações pela proclamação da abolição da escravidão no Amazonas naquele julho de 1884 fazem parte de um processo cultural de modificação dos corpos, de rituais de polidez e de civilidade, de encenação das ideologias dominantes do final do século XIX. Estava em jogo a manutenção – ao menos idealmente – de uma sociedade indivisa e harmônica. Nascia ali, a representação visual a ser inscrita na memória coletiva que informa, até hoje, identidades raciais, nacionais e de gênero. A escolha do horário, por exemplo, encenava a igualdade, já que o sol, era o que se dizia, em seu ponto mais alto iluminava indistintamente, evitando a projeção de sombras que sinalizasse desigualdades nessa comunidade cívica. O conjunto dessas cenas, investidas de exibicionismo e saudações narcísicas, funciona como um objeto, uma estrutura que engloba registros retirados da história para fixá-los em uma espécie de véu, no qual se projetam fantasias e desejos. Essa estrutura de recortes da realidade, diferencial que se apresentava, funciona como um mosaico, um painel, que, a nosso ver, tem uma função encobridora. Encobridora de quê, exatamente? Dos desejos inconscientes de morte social contra aqueles que não se integravam aos ideais de ser branco da época.
Código: |
76973 |
EAN: |
9786525115139 |
Peso (kg): |
0,310 |
Altura (cm): |
23,00 |
Largura (cm): |
16,00 |
Espessura (cm): |
0,70 |
Especificação |
Autor |
Ygor Olinto Rocha Cavalcante |
Editora |
EDITORA CRV |
Ano Edição |
2021 |
Número Edição |
1 |