Há pouca coisa menos parecida com um líder político do que um assessor de comunicação. E, no entanto, em todas as campanhas eleitorais, lá está essa figura emblemática do profissional especializado na construção midiática da imagem de candidatos. Sua presença no jogo de forças e de demandas sociais que fundam o processo de deliberação da sociedade civil equivale hoje à de um estrategista de novo tipo: no lugar da plataforma, a estratégia midiática conduzida com extraordinário refinamento técnico; no lugar da disputa programática, a concorrência entre as agências.
Essa foi, em síntese, a hipótese que norteou o trabalho deste livro. Com uma sólida fundamentação teórica que coloca ao alcance do leitor o que há de mais atual na literatura sobre o tema, a obra avalia várias faces das relações entre a mídia e a política, mas detém-se em especial naquela que pode ser considerada a mais sensível conseqüência desse processo para a própria democracia: seus efeitos sobre as estruturas profundas da política, isto é, as determinações incontornáveis que o texto midiático tem sobre os atores da esfera pública. Uma conclusão que põe abaixo qualquer ilusão de autonomia da prática da representação, e os autores do livro não deixam por menos: os códigos midiáticos operam como elementos condicionantes do público e dos políticos.
A sociedade que mais amadureceu esse complexo de mudanças foi a americana, como se pode perceber no emaranhado das eleições presidenciais deste ano, mas também a Europa parece destinada a reproduzir o mesmo dilema – a despolitização crescente proporcional à intensificação das campanhas eleitorais que invariavelmente obedecem antes à regra da teatralização midiática do que à da mobilização doutrinária. Nessas circunstâncias, Meyer e Hinchman antevêem um caminho difícil para a política, porque a racionalidade midiática está divorciada das demandas sociais, embora ela mesma procure fazer crer o oposto. No entanto, os autores arriscam uma proposta: os mecanismos da sociedade civil como instância de supervisão da mídia, num processo de inversão da iniciativa da política. Essa seria a alternativa de preservação da democracia, pura e simplesmente.