A questão da aids na sociedade contemporânea ainda é uma das maiores preocupações nas áreas das ciências humanas e da saúde principalmente quando se trata de fatores associados à vulnerabilidade sexual, como ocorre em algumas casas de prostituição à beira das rodovias ou postos de combustíveis onde circulam muitos caminhoneiros de estrada. Embora haja um avanço nas campanhas de conscientização quanto aos modos de se prevenir a aids e as doenças sexualmente transmissíveis, o número de novos casos em todo o mundo ainda é muito significativo, pois, se por um lado a descoberta de novos medicamentos permite uma melhor qualidade de vida nos indivíduos infectados, por outro lado possibilita uma certa banalização social da doença em determinados segmentos da população, fato este que leva muitos a se despreocuparem em manter práticas sexuais seguras com o uso do preservativo. Dentre as várias populações expostas a fatores de vulnerabilidade sexual e riscos de contaminação pelo HIV/aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, encontram-se os caminhoneiros de estrada que percorrem todos os rincões do país no transporte de cargas pesadas cuja oferta de sexo nos postos de combustíveis ou nas casas de prostituição situadas nas principais malhas rodoviárias são motivos de grande preocupação, pois, em muitas delas a falta de informação e até mesmo conscientização em relação a práticas sexuais seguras parecem não ser abordadas de forma sistemática e significativa. Consequentemente, os riscos de contaminação pelo HIV/aids tornam-se uma realidade sui generis nesse contexto se levarmos em conta que os caminhoneiros de estrada se caracterizam por um comportamento tipicamente machista em que a virilidade precisa ser comprovada e demonstrada a todo instante pelos demais elementos do grupo a fim de ser reconhecido e invejado por sua masculinidade numa mise-en-scène categoricamente exibicionista e absolutamente narcísica. Isso significa dizer que as relações sexuais no contemporâneo perderam seu valor substancial e conotativo pautado na reciprocidade afetiva, pois, na sociedade do espetáculo a satisfação imediata e exibicionista do próprio desejo do eu é quem define o sujeito no mundo. No caso dos caminhoneiros, especificamente, podemos considerar que as práticas sexuais estabelecidas nas estradas também não fogem à regra do narcisismo e do espetáculo uma vez que na cultura masculina a demonstração de força, poder e virilidade são normas de conduta enraizadas no imaginário social e parecem representar o ideal de vanglorização imediata do eu, além de expressar o desejo volátil e efêmero que caracteriza as relações afetivas em nome de uma encenação fugaz e sobejamente vazia de sentidos. É dentro desse contexto que a autora deste livro, Evania Nascimento, analisa a problemática da aids entre os caminhoneiros de estrada, bem como as várias facetas desses sujeitos no cotidiano de suas jornadas pelas rodovias brasileiras. O denso trabalho de investigação, levado a cabo pela autora em anos de dedicação e contato com os caminhoneiros, nos traz informações e detalhes interessantes sobre o cotidiano de vida desses sujeitos, praticamente ignorados e desconhecidos pelas políticas públicas de assistência e prevenção à saúde masculina, sendo esse o grande mérito da publicação: dar ciência da realidade sexual vivida pelos caminhoneiros num cotidiano que conjuga vulnerabilidade, solidão, aventura e virilidade exacerbada. Eurípedes Costa do Nascimento Unesp/Campus de Assis
Código: |
28572 |
EAN: |
9788580424362 |
Peso (kg): |
0,310 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
0,80 |
Especificação |
Autor |
Evania Nascimento |
Editora |
EDITORA CRV |
Número Edição |
1 |