Olhar para essa bela coletânea, tão representativa da riqueza do campo da história econômica hoje é reconhecer a fecundidade desse espaço de fronteira. Seja na articulação entre os vários “canteiros da história”, seja na interface promovida entre as ciências sociais, o lugar da boa história econômica tem sido sempre o de lembrar a importância da vida material na construção da gesta humana, transformando natureza, instituições e vida das pessoas. Precisa da largueza, da abrangência, do diálogo entre saberes, sem o que torna-se árida e estéril. Toda boa história econômica é também política e social. Nos trabalhos aqui reunidos pode-se aquilatar um percurso que, nutrindo-se dessa abrangência, ganha também com a incorporação das novas abordagens e vertentes historiográficas pelos pesquisadores. Certamente nossos queridos Tamás Szmrecsányi e José Roberto do Amaral Lapa, lembrados e homenageados aqui em seu papel pioneiro na construção do campo, estariam orgulhosos dessa generosa safra de novos frutos. O tempo que vivemos reclama por abrangência, inteligibilidade, conexão. Depende cada vez mais das possibilidades que o jogo de escalas, do micro ao macro, do local ao global, oferece para a compreensão das ações humanas. O Brasil Império é aqui revisitado com trabalhos que retomam os temas estruturantes daquela sociedade – dentre eles a escravidão e o tráfico de escravizados – com novos olhares que interrogam as mudanças demográficas, as relações de crédito, a vida urbana, a transição do trabalho, as questões de gênero, refletindo também as inovações metodológicas que os tornaram possíveis. É também uma expressão da maturidade e pertinência de uma área do saber que tem sido relegada a um injusto segundo plano em nosso sistema de pós-graduação, sempre tão eloquente para defender a interdisciplinaridade e pouco coerente em reconhecê-la e valorizá-la.

— Wilma Peres Costa, Professora Livre docente de Brasil Império da Unifesp e sócia da ABPHE