Eis um poeta. Dos que procuram o som e o senso das palavras. Dos que fazem do poema uma viagem, um desafio, um mergulho, uma graça. Dos que se aplicam à tarefa de compor a massa teimosa de ideias e palavras com a paciência, o orgulho e a humildade do artesão.
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Finda a leitura, fica a percepção de que o poeta realizou neste livro seu objetivo de destilar sua poesia, considerando essa palavra como depuração: determinada, buscada, teimosa, obsessiva.
Ivan Angelo, escritor
Languagem é um presente, um elogio à inteligência, ao talento, à cultura, à erudição, à arte. Sou suspeito, suspeitíssimo para falar deste livro, que conheço desde a sua fecundação. Generoso, Edney volta e meia me manda densas pílulas do seu fazer poético. Aliás, “fazer poético” é, na essência, um pleonasmo, visto que “poesia” vem do latim “poesis”, que, por sua vez, vem do grego “poíesis”, que significa “fazer”, “produzir”. E Edney faz, produz. Como um Cabral, mexe e remexe até que o prazo estoure, o que o obriga a entregar os originais, do contrário ele os alteraria e alteraria e alteraria.
Essa inquietação no fazer se vê nas soluções (meta)linguísticas que Edney encontra, por exemplo, no antológico Notas Laterais, em que italiano e português se misturam em versos que metaforizam a metáfora e criam intensos focos de luz poética e linguística:
meta a poesia
cometa e remeta
o metacazzo
em meio à zoeira
ao tempo pazzo
meta de bobeira
verso na asneira
...
sim, meta a poesia
de fósforo, o palito
em meta de poesia
alívio paratodanoia
luz, possível infinito
aroma de metanoia
Pois é aí que está o busílis de toda a obra de Edney, que dá à velha questão forma/conteúdo forma e conteúdo ímpares. Languagem é a própria sagração da linguagem criativa, inventiva, subversiva, criativamente subversiva. Como se sabe, a subversão da linguagem não é por si só uma virtude. Subversão sem criatividade é simplesmente um equívoco, um engano, um engodo. Em Languagem, nada sobeja.
Destaque-se também o comovente trabalho operário de Edney na elaboração de poemas de clara inspiração concretista, na melhor “tradição” do que fizeram os nossos mestres dessa escola literária.
Prepare o fôlego, caro leitor!
Pasquale Cipro Neto
linguista e professor