Localizo meu gosto pelo cinema, posteriormente transformado em paixão, desde minha infância, quando eu e minha irmã mais velha fazíamos, como nós mesmos chamávamos, “caderninhos de filmes”, nos quais colávamos cartazes, fotos de atores/atrizes e, claro, o que nos era mais atrativo, os pôsteres. Penso agora que a nossa mania de rever os que mais gostávamos devia-se ao fato, mesmo que não fosse claro para mim na época, o que cada um deles causava em nós internamente. Nesta época, lembro-me de praticamente termos decorado as falas de “Os goonies”, “Indiana Jones e o templo da perdição”, Curtindo a vida adoidado”, “Os aventureiros do bairro proibido” dentre outros. Nesta ocasião, a infância, levava à escolha destes filmes imagino por ela também estar se perdendo com o tempo. Deparo-me até hoje com a estranheza de algumas pessoas ao perceber esta mania de rever os filmes que gosto, que, claro, permaneceu, mas o que considero uma evolução (e aqui entra o contato com a Psicologia) para filmes mais cults e reflexivos, como “Cidade dos anjos”, “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Beleza Americana” e outros que não poderia ter deixado de fora do livro. Com a minha notória afinidade pelos princípios da Abordagem Centrada na Pessoa, ao final do meu curso de Graduação, principalmente pelas aulas e supervisões com os professores Antônio Ângelo Favaro Coppe, Escípio da Cunha Lobo e Ana Maria Sarmento Seiler Poelman, comecei a exercer a clínica humanista de Carl Rogers, alías, a minha. Fiz então uma formação em psicoterapia clínica, na mesma abordagem, pelo IHP - Instituto Humanista de Psicoterapia, quando o Professor de Filosofia Johannes Poelman pediu que nosso trabalho final fosse articular as filosofias existenciais e humanistas com algum tipo de arte. Dessa proposta, fiz o primeiro artigo do livro “a possibilidade e a descrença nos filmes cidade dos anjos e matrix”. Desde então, a idéia tomou corpo e, sempre que tinha tempo, escrevia um artigo. Considerei que mesmo com muita dedicação, o que já tinha produzido não era um material “suficiente”, digamos assim, a ponto de publicar um livro. Foi quando em um dos grupões no VIII Fórum Brasileiro da Abordagem Centrada na Pessoa (outubro de 2009), realizado em Florianópolis/SC, pedi ajuda em público para concluir o projeto original, e, desde então, passei a receber dos profissionais, clínicos, professores e alunos envolvidos com a ACP de vários Estados, os artigos produzidos, que encontram-se no livro. Os filmes sempre me inspiraram a enxergar a vida de forma diferente com a mensagem que trazem, por isso desde que tornei-me professor em 2006 nunca deixei de usar trechos ou até filmes completos para ilustrar o que estava falando em sala teoricamente. O retorno que tive e tenho dos meus alunos é que além de gostarem, é sempre bom tentar aplicar o conteúdo teórico com algum outro recurso, e, sendo assim, por que não a sétima arte? Como Sartre disse, se “o existencialismo é um humanismo”, a primeira abordagem teórica e seus respectivos representantes aparecem vez ou outra num artigo ou outro no decorrer da obra, apesar do enfoque maior ser na ACP humanista de Carl Rogers. É importante lembrar que ambas teorias encontram suas semelhanças no que diz respeito à Psicologia e, além disso, possuem o mesmo método de intervenção, a Fenomenologia, diferenciando-se em alguns aspectos na Filosofia. Antes de iniciar os artigos “acepistas” relacionados aos filmes, acrescentei um intitulado de “luto do consultório”, que tem o intuito de explanar sobre as atitudes básicas do psicoterapeuta, para que a leitura fique acessível também ao público leigo que possa se interessar. Gosto muito da idéia de aplicar a ACP em outros contextos, como o próprio “jeito de ser” propõe, e como nas outras forças de Psicologia já existia algo semelhante, resolvi tomar a iniciativa para que esse seja apenas o primeiro livro de uma série que pode ser feita por mim ou por qualquer um de vocês. Agradeço este projeto aos professores citados anteriormente, amigos do GRUMPSIH – Grupo Mineiro de Psicologia Humanista, da minha graduação de Psicologia, da vida, psicólogos centrados, e aos behavioristas e psicanalistas, principalmente e, claro, aos meus alunos, que foram meus grandes inspiradores e também co-autores do livro. Que todos tenham uma boa sessão e bem acompanhados, ao lado de Carl Rogers! Bruno de Morais Cury