A vida de milhões de homens e mulheres no mundo se organiza cotidianamente na sua relação com o trabalho, que para além de uma atividade que envolve saberes, tarefas e remuneração, também mobiliza prazer e sofrimento, processos que podem representar alienação ou fortalecimento da ação criativa. O livro de Zelma Guimarães mergulha no universo específico do trabalho da enfermagem numa unidade hospitalar e, descortina fatores que colocam luz sobre o prazer e o sofrimento numa profissãointrinsecamente voltada a produção do cuidado, cuja possibilidade de fazer-se depende dos modelos de organização gerencial e das relações que se estabelecem no ambiente laboral.Seu estudo apresenta alta prevalência de riscos para transtornos mentais comuns, no que se destacam a precarização do trabalho, sobrecarga nas jornadas e fragmentação na divisão do trabalho, baixa participação nas tomadas de decisão, que colaboram a compreensão das mudanças no mundo do trabalho na contemporaneidade e seus efeitos na sociedade e nos sujeitos. A obra registra os limites do cuidado na enfermagem, o cuidar de si, a partir de experiências desiguais de divisão de trabalho doméstico e trabalho com fraco reconhecimento gerencial, porém resgata o sentido polissêmico do cuidado, na dimensão de prazer que profundamente se vivencia ao assistir/cuidar do paciente, e na sua recuperação. Márcia Cristina Graça Marinho/Doutora em Saúde Pública/Professora de Saúde Coletiva do Departamento de Ciências da Vida – UNEB.