"No seu conjunto os capítulos que conformam este livro têm como escopo restituir a historicidade às sociedades originárias e certas personagens outrora ausentes, ou negligenciados pelos historiadores/as. A pesquisa desenvolvida por Soraia tem um grande mérito, pois se propõem a estabelecer uma narrativa onde o indígena faça parte não como um mero capítulo ou tópico, mas como um participante ativo dessa história. Em outras palavras, a partir de um tema clássico na história regional, no caso a imigração e colonização, Soraia estabelece uma narrativa na qual os indígenas não figuram como obsoletos, ou meras vítimas de processos externos. A autora procura evitar o discurso da vitimização, outrora tão comum nas pesquisas dedicadas às sociedades indígenas, e avança em relação a tradicional interpretação amparada na ideia da trágica experiência. Mesmo procurando superar esta chave de explicação, Soraia nunca perde de vista os processos de violência inerente as relações que os colonizadores estabeleceram com os Kaingangs nesta, digamos, aventura interétnica, cujo desfecho alterou significativamente o modo de vida desses indígenas. Um aspecto valorizado na análise é a adaptação recíproca, estabelecida entre as populações originárias e os colonizadores, contudo sempre é oportuno enfatizar que para os indígenas esta adaptação foi condição para sua sobrevivência, principalmente diante de um contexto de forças muito adverso". Eduardo Neumann (PPGH-UFRGS)