Ilha minúscula
Cápsulas, comprimidos, relógios, sacolas, garrafas
Lanternas, fraldas, tendas, pentes, tubos
Assaltam a fina praia
E a fama da alma planetária
Próximo do patamar de pária.
Como será o futuro:
Lodo ou reinvenção do todo?
Mundo virtual multi- e transdimensional, interconectado à velocidade da luz, sujeito a imprevisíveis mudanças do (des)humano (des)afeto. Complexas construções, emaranhado de emoções indecifráveis, ermo silêncio, obsessão pela palavra muda, gesto inócuo, inocente olhar dissimulado, monólogo episódico. Desejos infundados, provisórios, mal definidos, carências, apreensão, caos, instantânea obsolescência, impotência, acúmulo: colapso local e global, manipulação de códigos sem expressão: poluído ruído. Qual o sentido desta corrida insana que nos exaure? O que buscamos afinal? A mais inacessível ilusão? Incontida alegria, genuíno amor, reinventar da esperança, do perdão? Solidão asséptica, bálsamo virtual, sombria serenidade, paraísos paradoxais? Paixão compartilhada, acolhida, acariciada? Fragmentos de labirintos, emoções cortantes, ríspida indiferença nos rondam. Busco poesia que respire vida.
Eduardo de Campos Valadares nasceu em São Gotardo, Minas Gerais, e doutorou-se em física. É professor titular na UFMG e vive em Nova Lima, região metropolitana da grande Belo Horizonte. Morou em diversos estados brasileiros, na Alemanha e Inglaterra. Traduziu para o português o poeta alemão Stefan George (Crepúsculo, Iluminuras) e Paul Valéry, poeta francês, que, como George, foi discípulo de Mallarmé.