Estamos com Ruy Espinheira Filho em Samarcanda. Não vamos longe de Ciméria ou de Pasárgada. Estamos com Manuel Bandeira e Oswaldino Marques. E por que não evocar a rua Lopes Chaves, que é o mesmo que dizer Mário de Andrade? A poucos passos da oficina irritada de Drummond. Toda uma constelação de eventos, ao que Ruy completaria: et in arcadia ego. Arcádia metafórica, bem entendido, viva, contemporânea, no registro forte da poesia brasileira, em cuja altitude se inscreve Samarcanda, com o soberbo rigor do artista, que sabe trovar claro, porque domina as formas do trobar clus. Ruy não se prende àquelas fontes. Aproxima-se para se afastar. Não subsistem aqui resíduos de uma angústia da influência. Samarcanda não está em parte alguma. É uma espécie rara de não-lugar. A única geografia capaz de abrangê-la talvez se desenhasse no coração da língua portuguesa, sob a diferença específica dos ventos que sopram neste livro. Chuva e tempestade. A longa paciência dos dias. E toda uma dimensão líquida e transparente nos modos de sentir. E de seus belos instrumentos. O corpo transparente da palavra assumida numa biografia aberta. É a obra mais livre e calculada de Ruy. Mais dolorosa e alegre. Mais aflitiva e serena. Temperada de ironia e comoção. Superou-se a si mesmo na altitude deste céu, na luz generosa das quatro vogais que produzem o som altivo e claro de Samarcanda.Marco Lucchesi
Código: |
67675 |
EAN: |
9788528614138 |
Peso (kg): |
0,300 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
1,40 |
Especificação |
Autor |
Achille Mbembe |
Editora |
BERTRAND BRASIL |
Ano Edição |
2009 |
Número Edição |
1 |