A ideia de escrever este livro surgiu tanto do prazer nas aulas em que lecionávamos sobre Psicanálise na universidade, quanto dos frequentes pedidos de nossos alunos para que elaborássemos algo escrito sobre o tema. O material que brota na dinâmica das aulas, na relação com os alunos, na exploração detida e paciente dos textos de Freud, e na busca sincera de compreensão e questionamento dos conceitos psicanalíticos é de uma tal riqueza que de fato valeu a empreitada. Temos em nossas aulas e em nossa prática clínica, assim como tivemos neste livro, a pretensão de expor alguns conhecimentos psicanalíticos ao questionamento leigo e ao bom senso. O primeiro funcionando como aquele leigo que não pode faltar em uma interessada audiência e que, com suas arguições simples e diretas, sempre é capaz de fazer todos nós retornarmos para a realidade, para a vida concreta. O segundo, o bom senso, como a linha mestra de qualquer reflexão, como o espírito crítico que não teme pelo naufrágio que a razão possa provocar em suas próprias convicções. Em nossa concepção, é perigoso para a Psicanálise seu encastelamento nos guetos de sua produção. Ela não pode ficar fechada no círculo daqueles que politicamente a comandam. Deve se comunicar com o senso comum, deve ouvir às questões mais básicas, deve estabelecer relações com o cotidiano, no sentido de poder absorvê-lo para sua experiência e também de contribuir para a ampliação do horizonte de percepções do homem comum. Não pode perder-se somente em reflexões abstratas, desconectadas da realidade sensível, para poder “aprofundar” seus conceitos ou fazer valer o que já estaria estabelecido.