Em suas aulas de Literatura Inglesa na Universidade de Buenos Aires, Jorge Luis Borges lançava mão do conto A história de Rasselas, Príncipe da Abissínia, de Samuel Johnson, para falar da busca da felicidade, das paixões do homem, da brevidade da vida humana, das vicissitudes do destino, dos nossos vícios e virtudes e da esperança que temos na imortalidade. Ao ler o texto teatral Sábias palavras de um Chihuahua, de Paola Prestes, não pude deixar de lembrar desse conto, onde fica clara a evanescência das nossas ilusões e a inexorável passagem do tempo.
Tanto a protagonista da peça, a roteirista Melanie, como sua vizinha, a viúva dona Kiki, buscam dar um sentido às suas existências em meio a transformações pessoais, políticas e sociais. Os diálogos entre as duas revelam não só diferenças, como o vácuo geracional, mas pontos comuns, como uma intensa inquietude perpassada de angústia e solidão, e a perplexidade diante da inesperada ausência de amor.
À medida que o enredo da peça vai se construindo, fica evidente que o mar da imaginação dessas mulheres é muito mais vasto que o mar da realidade que se abateu sobre elas. De um lado, a entrevação de Melanie diante do roteiro que não consegue finalizar, a internação de seu companheiro, Leon, vítima de um vírus que pode matá-lo, tudo isso em meio à agonia da relação do casal. Em suma, o colapso da vida de Melanie.
Do outro, dona Kiki e a saudade do marido morto, e seu atual companheiro, um chihuahua. Tagarela, mete-se na vida alheia como quem faz um favor. Tem uma opinião sobre todas as coisas, mas a euforia com que profere suas certezas só evidencia a tristeza das pessoas solitárias que falam demais para esquecerem-se delas mesmas e da própria dor. O texto é o desenho vibrante e humano dessas mulheres, que diante das adversidades que a vida lhes impôs, buscam, mesmo se a contragosto, um ponto de conexão como forma de sobrevivência.
Nessa belíssima peça, Paola Prestes coloca diante de nós uma importante questão existencialista, sobre o ser particular que tem de estar consciente de si mesmo, ser responsável por si mesmo, se pretende tornar-se ele mesmo. Em outras palavras, eu sou porque em algum momento eu posso não ser (morrer). É a confrontação com o não ser, a morte, ou a vaidade da nossa existência, que acende a nossa vitalidade e confere sentido à vida.
Sérgio Ferrara
Código: |
125654 |
EAN: |
9786588091821 |
Peso (kg): |
0,360 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
1,20 |
Especificação |
Autor |
Paola Prestes |
Editora |
EDITORA REFORMATÓRIO |
Ano Edição |
2023 |
Número Edição |
1 |