Uma menina busca reter a mãe perdida nos rastros que ela deixou — nas caixas, nos cantos e nas lembranças. Arquivista no Acervo dos Escritores Mineiros, ela era responsável por guardar e zelar os inventários de poetas e literatos. Ao reconhecer sua mãe em seus objetos, a menina não apenas refaz uma relação e tece memórias, como partilha com os leitores o universo poético de uma das mais importantes vozes da poesia brasileira. É o mundo de Henriqueta Lisboa, nas suas palavras, versos e pensamentos espalhados pela obra, que ajuda a menina em sua busca. Dona Ausente, apelido dado por Mário de Andrade a Henriqueta, é quem faz a mãe se tornar presente e a menina encontrar um caminho para prosseguir, embalada pelo mistério da vida.
As ilustrações e o projeto gráfico de Flávia Bomfim costuram universos abrindo caixas, explorando guardados poéticos e aproximando infância, memória e poesia, territórios costumeiramente habitados por Gabriela Romeu. No posfácio, Ana Elisa Ribeiro, outra poeta mineira, nos convida a conhecer um pouco mais sobre a obra de sua conterrânea, e sinaliza o feliz encontro que observou na obra: “Gabriela Romeu e Flávia Bomfim escavaram as ruínas, imaginaram o por trás dos arquivos, das gavetas e dos armários, para entregar a nós esta personagem em busca de outras, mergulhada nas palavras e nas quinas das caixas onde damos de cara com nossas emoções”.