SINOPSE
A partir de conceitos das obras do filósofo da ciência Ian Hacking e do psicanalista Jacques Lacan, o livro busca situar a verdade como um conceito-limite, que ao ser pensado questiona noções estabelecidas da produção do conhecimento, assim como instala a psicanálise como um estilo de raciocínio, com objetos e parâmetros próprios em constante diálogo com outros modos de pensar.
Esta obra, Verdade e Sofrimento, ressitua e requalifica o debate sobre o que é ciência, sua compreensão e extensão, sua natureza, pertinência e formas e processos de validação.
QUARTA-CAPA
Compreender de que modo a teoria e a clínica da psicanálise, pouco conciliáveis com os métodos quantitativos das ciências empíricas, poderiam ser articuladas com a demonstração de seus efeitos por essas mesmas ciências, exige aprofundar a questão, incluindo dois outros objetos que são fundamentais à sua compreensão e pertencem a ambas: a verdade e o sofrimento psíquico (que não pode ser reduzido a processos neuroquímicos do cérebro, como assume a visão psiquiátrica).
Partindo da conceituação de “verdade” a partir das obras do filósofo da ciência Ian Hacking e do psicanalista Jacques Lacan, Paulo Beer reinstala a verdade como um conceito-limite, tensionador da produção do conhecimento, e a psicanálise como um estilo de raciocínio, com objetos e parâmetros próprios em constante diálogo com outros modos de pensar, fazendo com que ela adentre na discussão da filosofia
da ciência pela porta da frente.
Mais do que oportuna, a chegada de Verdade e Sofrimento areja o debate e amplia nossa perspectiva acerca da verdade, da mentira, de negacionismos e de positivismos superados.
ORELHA
A definição do verdadeiro contém em si os modos aceitos pelos quais podemos considerar algo enquanto verdadeiro: consideramos que uma teoria é verdadeira porque podemos observá-la, ou então porque conseguimos produzir os resultados esperados a partir dela. Trata-se, aí, dos parâmetros de justificação de por que algo é verdadeiro ou falso. Junto a isso, a verdade também produz definições e normas (sabe-se que tal ideia é verdadeira), assim como abarca a possibilidade de crítica (embora acreditássemos que tal ideia era verdadeira, descobrimos que outra é mais adequada e, portanto, a ideia anterior passa a ser falsa). Conjuga-se, assim, a possibilidade de afirmação e negação de certezas à definição dos modos como uma ideia pode ser afirmada ou negada.
Porém, isso não encerra a questão. Afinal, o modo como podemos afirmar que x é verdadeiro ou falso é solidário à maneira como definimos x. Isso não significa que primeiro definimos os modos de justificação do verdadeiro e depois os objetos, mas sim que são processos interdependentes. Nesse sentido, a questão da verdade abarca a relação entre o conhecimento e seus objetos, carregando um potencial de justificação e de normatividade (e disrupção). […] [H]á ainda um recorte a ser considerado: […] a verdade na produção de conhecimento sobre sofrimento.
[…] O sofrimento psíquico […] com frequência é alvo de intervenções por práticas clínicas como a psiquiatria ou a psicologia. Esse tipo de produção de conhecimento é em especial importante porque, a partir de suas práticas clínicas, apresenta um potencial significativo de controle e direcionamento de maneiras de viver. Se o conhecimento é produzido com base em modos de compreensão da verdade – tanto nos modos de justificação quanto na definição dos próprios objetos –, um conhecimento que apresenta um potencial normatizador tão intenso merece ter seus pressupostos colocados em questão.
PAULO BEER
Psicólogo (PUC-SP) e psicanalista, mestre e doutor pelo Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (PST-IPUSP), com estágio de pesquisa na Université de Rennes 2 - Haute Bretagne e no Birkbeck College da Universidade de Londres. Orientador e professor convidado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (PST-IPUSP), e professor do Instituto Gerar de Psicanálise. Membro da International Society of Psychoanalysis and Philosophy (SIPP-ISPP), do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (LATESFIP-USP) e da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF). Coordenador do Núcleo de Estudos e Trabalhos Terapêuticos (NETT). É ainda editor de Lacuna – Uma Revista de Psicanálise, da revista Traço e editor associado da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental.
COLEÇÃO ESTUDOS
A coleção Estudos propõe-se a publicar ensaios críticos e pesquisas tratados em profundidade, com sólida argumentação teórica nos mais variados campos do conhecimento. A coleção forma, junto com a Debates, a marca de identificação da editora em nosso mercado.
DA CAPA
Imagem da capa: Paul Klee, Intenções (detalhe), 1938. Zentrum Paul Klee.